segunda-feira, 30 de abril de 2007

"Nós somos algo diferente de eruditos: embora seja inevitável que, entre outras coisas, também sejamos eruditos. Temos outras necessidades, outro crescimento, outra digestão: precisamos de mais, também precisamos de menos. Não existe fórmula para o quanto um espírito necessita para a sua nutrição; mas, se tem o gosto orientado para a independência, para o rápido ir e vir, para andanças, talvez para aventuras, de que somente os mais velozes são capazes, então prefere viver livre e com pouco alimento, do que preso e empanturrado. Não é gordura, mas maior flexibilidade e força, aquilo que um bom dançarino requer da alimentação - e eu não saberia o que o espírito de um filósofo mais poderia desejar ser, senão um bom dançarino. Pois a dança é o seu ideal, também a sua arte, e afinal sua única devoção também, seu 'culto divino'...
"NIETZSCHE, F. W. "A Gaia Ciência". Aforismo 381. Tradução de Paulo César de Souza. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2001, página 285

quinta-feira, 26 de abril de 2007

A Nova Consciência Humana (Parte II)

Bata,
e Ele irá abrir a porta.
Desapareça,
E Ele o fará brilhar como o Sol.
Caia,
e Ele irá erguê-lo aos céus.
Torne-se nada,
E Ele irá torná-lo tudo.
Mevlana Jalaludin Rumi

Existe um modelo do novo homem? Como o novo homem está nascendo, traz em si toda a potencialidade do vir a ser. O grande dilema repousa em como elevar a consciência e romper as barreiras e couraças do Ego.


Não existe caminho, seita, religião, método ou filosofia. O novo homem traçará e ultrapassará os limiares de sua consciência com liberdade. Esta transcendência coletiva é silenciosa e sem lideres, e tudo que é velho deverá fenecer.

Ser livre é uma máxima a ser seguida, assim o homem poderá encontrar sua verdadeira natureza dentro de si mesmo. Sozinho, no silêncio de sua alma. Os ídolos cairão e o novo homem também não tem deveres e não possui regras. A liberdade é um dom, um presente ou uma conquista para que ele possa viver e ser o quiser.

Podem até surgir gurus e mestres apontando o caminho, mas ele não seguirá, porque a senda é apenas sua. Em sua alma germinará a certeza que ele é livre para amar e para encontrar seu caminho. Seguirá apenas sua alma, coração e consciência.

O novo homem sairá dos templos e meditará nu diante das estrelas, despirá suas velhas crenças, jogará fora seus rótulos, seus títulos, seus graus e suas seitas tolas. Assim, não existirá mais hierarquia na Terra, todos são iguais perante o cosmos.

Loucos? Muitos rotularão o novo homem de louco. Muitos impasses e conflitos podem ser gerados. A solução é encontrar e cooperar com consciências que vibram em freqüências similares, aqueles que se propõe a um novo caminho e com propostas novas.

A trilha será de encanto, estudo, descoberta, treino, passeios e convivência. Assim o novo homem poderá sentir acolhimento e reverberação de seus anseios mais profundos. Esta confraternização não deturpará ou desviará os preceitos profundos de sua alma.

Os espaços criados pelo novo homem e para sua vida social serão destinados a sobrevivência harmônica. Serão verdadeiros oásis no meio do deserto.

Assim estão sendo lançadas as sementes do novo tempo, com o homem sendo um ponto de transformação. Assim como vem o dia, vem a noite, logo, não devem existir as preocupações com o que há de vir, com guerras, holocaustos e apocalipse. O novo homem apenas se voltará para o seu interior.

Mesmo que todos os alicerces do mundo sejam abalados, os alicerces da alma continuarão intocados. A transformação pode ser vasta e abrangente no mundo, porém a principal é a transcendência que ocorre dentro do homem.

Esta transcendência e o nascimento do novo homem resultarão no despertar de varias consciências em uníssono, em escala geométrica. O papel que cada um assumirá no mundo, passivo ou ativo, não importa. Porque cada ser em si carregará o dom da liberdade.

Uma profunda compreensão que as coisas não estão todas predeterminadas persistirá no intimo. As coisas ainda estão em aberto em muitos pontos e só dependerá do esforço passivo ou ativo, para que este processo de transição seja realizado de forma positiva.

San Mendes

A Nova Consciência Humana




" Nada podes ensinar a um homem.
Podes somente ajudá-lo a
descobrir as coisas dentro de si mesmo."


Galileu Galilei





Quem é este novo homem que está surgindo? Uma nova consciência permeia o universo e está sendo plasmada na realidade numa dança lenta, porém constante e ascendente, com novas formas de pensar, de agir, de sonhar, de amar e conceber. O cerne que norteia este novo homem é como pensar em toda a sua civilização e em si mesmo e em como ser cósmico na tridimensionalidade da Terra.

O homem em si deseja e busca um mundo melhor, mais justo, igualitário, pautado em ideais mais elevados. Um mundo de paz, prosperidade e felicidade para todos. Este desejo apenas precisa passar para uma ação mais contundente, e começar a construí-lo. O que acontece é que o homem fica a espera que um sistema político, governos ou instituições façam este trabalho. Não importa se são pequenas ou grandes ações, o importante é que exista um movimento nesta direção.

A verdadeira transformação começa internamente, nos corações de cada um de nós. Se o interior deste novo homem estiver vivo, renovado, desperto, curado das dores de sua alma, este novo mundo começa a tomar forma, e o homem, como agente ativo desta renovação, tem como base os pés no chão e o coração e a alma nas estrelas.

Este homem integrado canalizará todo o seu potencial para seu crescimento e dessa nova consciência no mundo. A ação e o pensamento são planetários, suas preocupações versam sobre ecologia, o ecossistema, a sociedade, o futuro do planeta, o ser em si, o ser em nós.

Ele junta idéias, com pessoas, nos livros, dentro de si mesmo. Alguns o chamam de louco e visionário. Às vezes é discriminado em seu meio, tudo isso por suas visão de transformação, de amor e visão cósmica. Em alguns momentos vive uma profunda solidão, sente fraco, exausto, mas como uma semente que germina em seu intimo ele sabe que seus anseios são reais e que forças cósmicas o amparam.

O despertar da consciência é a chave para a liberdade do homem. Somente imbuído de uma visão cósmica as correntes poderão ser rompidas, assim como emerge a percepção de sua prisão e auto-condenação ao ostracismo.

Nós não estamos sós no Universo. Apenas nos sentimos solitários dentro de nós mesmos. Assim, muitos estão fechados em seu mundo e não conseguem conceber outros mundos e outras vidas, outras dimensões. No claustro do seu microscópico mundo de solidão apenas concebe sua realidade como tudo que existe no universo.

A tolice as vezes toma tais proporções que mesmo quando este ser enclausurado ergue os olhos para o céu e vê a miríade de estrelas, ainda consegue acreditar que seu mundinho é o único entre as estrelas do firmamento.

O desnudamento do ego é um caminho para trilhar novos rumos dentro de si mesmo. Quando deixarmos de ser rótulos egoicos: médicos, físicos, astrônomos, engenheiros, psicólogos, cientistas e passarmos a ser simplesmente homens, retornaremos a nós mesmos, abertos, descondicionados de nossas pseudo ciências e nos revestiremos de nossa alma cósmica.

Bertrand Russel, quando criança, questionava-se profundamente para compreender: "Quem sou?". Qual o significado da minha existência? Ele acreditava que se estudasse muito poderia obter todas essas respostas. Ele cresceu, estudou muito e tomou-se um grande filósofo racionalista, espelho das idéias do sistema. Contudo olhou para si, no final de sua vida, e constatou que aquelas perguntas da infância nem sequer tinham qualquer ponto de luz para sua resolução.

Qual seu questionamento?

San Mendes

domingo, 22 de abril de 2007

Parto com o ar...
Sacudo minha neve branca ao sol que foge,
Desfaço minha carne em redemoinhos de espuma,
Entrego-me ao pó para crescer nas ervas que amo,
Se queres ver-me novamente procura-me
Sob teus sapatos.
Dificilmente saberás quem sou ou o que significo,
Não obstante serei para ti boa saúde,
E filtrarei e comporei teu sangue.
E se não conseguires encontrar-me, não desanimes
O que não está numa parte está noutra,
Nalgum lugar estarei a tua espera.

Walt Whitman

sábado, 21 de abril de 2007



Galaxia em espiral...

Velho Fantasma

Meu velho fantasma…
Os elos que nos uniam se partiram...
Fico aqui parada em frente a esta abissal distancia...
Fitando o vazio...o nada...
Não consigo mais recordar das noites estreladas..
As luas cheias... as mãos entrelaçadas...
A intimidade da noite...os gestos desesperados...
Lagrimas e dor quando me sentia a deriva..
Os sentimentos caóticos... a urgência...
A dor de sua ausência...
O céu e o inferno de estar em seus braços...
O mergulho na luz dourada de seus olhos...
Ahhh velho fantasma...
Este vazio me assusta...
Sua lembrança era um suave calor que me consumia...
Aquecia nas noites solitárias...
Não ouço mais o arrastar de suas correntes
Pelos corredores de minha alma...
Não sinto mais alento por saber que você estava ali...
Nem saudade...dor... alegria ou amor...
Agora vejo apenas a sua imagem esmaecida...
Difusa...distante... preciso fixar meu olhar para te ver...
Talvez o que veja seja apenas um eco de minhas lembranças...
Reminiscências de uma antiga memória ancestral...
Velho fantasma...
Vivemos hoje em galáxias distantes...
A vida e como um caleidoscópio...
Ao rodarmos nas mãos... formamos lindos desenhos..
Um leve tremor e o desenho muda...
Por mais que tentemos recuperá-lo...recriá-lo...
Não mais conseguiremos...

So nos restará formar novos desenhos...
E nos encantarmos com novas possibilidades...
Novas cores...novos fractais...
Sem a preocupação do tremor nas mãos...
Adeus meu velho fantasma...
Em pé na beira deste abismo de mim mesma...
Uma lágrima desce solitária por meu rosto...
Ergo os braços aos céus...
Fito o universo...as estrelas...o infinito...
As possibilidades difusas do vir a ser...
E jogo suas cinzas ao vento...
Descanse em paz em meus velhos sonhos...

Adeus.... meu velho fantasma...

San Mendes


sexta-feira, 20 de abril de 2007


Explosão de Cassiopéia

O Haver

Vinicius de Moraes

Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo-
Perdoai-os! porque eles não têm culpa de ter nascido...
Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo
Essa mão que tateia antes de ter, esse medo
De ferir tocando, essa forte mão de homem
Cheia de mansidão para com tudo quanto existe.
Resta essa imobilidade, essa economia de gestos
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito
Essa gagueira infantil de quem quer exprimir o inexprimível
Essa irredutível recusa à poesia não vivida.
Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento
Da matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade
Do tempo, essa lenta decomposição poética
Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.
Resta esse coração queimando como um círio
Numa catedral em ruínas, essa tristeza
Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria
Ao ouvir passos na noite que se perdem sem história.
Resta essa vontade de chorar diante da beleza
Essa cólera em face da injustiça e o mal-entendido
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
Piedade de si mesmo e de sua força inútil.
Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado
De pequenos absurdos, essa capacidade
De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil
E essa coragem para comprometer-se sem necessidade.
Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza
De quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser
E ao mesmo tempo essa vontade de servir, essa
Contemporaneidade com o amanhã dos que não tiveram ontem nem hoje.
Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é, e essa visão
Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante
E desnecessária presciência, e essa memória anterior
De mundos inexistentes, e esse heroísmo
Estático, e essa pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.
Resta esse desejo de sentir-se igual a todos
De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem memória
Resta essa pobreza intrínseca, essa vaidade
De não querer ser príncipe senão do seu reino.
Resta esse diálogo cotidiano com a morte, essa curiosidade
Pelo momento a vir, quando, apressada
Ela virá me entreabrir a porta como uma velha amante
Mas recuará em véus ao ver-me junto à bem-amada...
Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
Infantil de ter pequenas coragens.

15/04/1962
A poesia acima foi extraída do livro "Jardim Noturno - Poemas Inéditos", Companhia das Letras - São Paulo, 1993, pág. 17.
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