quarta-feira, 3 de outubro de 2007

O amor em mim

O amor invade todo o meu ser que meu coração se torna pequeno nesta imensidão. Um amor que expande e quer abraçar e se dissolver em todos os seres, no mar, nas nuvens, nas estrelas, no grito, no silencio, na rua, e em tudo o que vibra, em tudo que vive.
Me derramo de amor no universo, vejo miríades de estrelas que se explodem em milhares de cores. Toco o Universo com a ponta dos meus dedos e Sou este Universo na multidimensionalidade deste imenso amor.
A Totalidade do ser através da senda amorosa, que explode como a paixão dos desesperados que sorvem o ultimo beijo antes do adeus. O sentimento de tocar a matriz original da alma e se reduzir a essência de Ser, e Amar e Viver.
Neste imenso amor todas as feridas foram curadas, todas as dores sanadas, não há medo, apenas o amor, completo em si só, simples, total, universal. E SÓ. Nada mais existe, nada mais importa. Nem mesmo as palavras.
San (Talvez em surto)

sábado, 23 de junho de 2007

Nosso medo mais profundo não é o de sermos inadequados.
Nosso medo mais profundo é que somos poderosos além de qualquer medida.
É a nossa luz, não as nossas trevas,o que mais nos apavora.
Nós nos perguntamos:
Quem sou eu para ser
Brilhante,Maravilhoso, Talentoso e Fabuloso?
Na realidade, quem é você para não ser?
Você é filho do Universo.
Se fazer pequeno não ajuda o mundo.
Não há iluminação em se encolher,
para que os outros não se sintam inseguros quando estão perto de você.
Nascemos para manifestara glória do Universo que está dentro de nós.
Não está apenas em um de nós: está em todos nós.
E conforme deixamos nossa própria luz brilhar,
inconscientemente damos às outras pessoas permissão para fazer o mesmo.
E conforme nos libertamos do nosso medo,
nossa presença, automaticamente, libera os outros.
(Nelson Mandela)

terça-feira, 22 de maio de 2007

O Olho de Deus


"Si comprehendis, non est Deus". Fiquei maturando sobre Deus. Recebi esta foto chamada Olho de Deus, um fenômeno raro segundo a Nasa. Santo Agostinho fala da existência de Deus, sabe e acentua que Deus infinito é incompreensível ao nosso entendimento: finito. Por isso logo a frase “se compreendes, não é Deus.

Agostinho mesmo descreveu os atributos de Deus, pensar em Deus como “bom” mas sem entrar na categoria da qualidade; grande, sem a quantidade; criador, sem indigências; superior a todas as coisas, sem situação local; abrangendo-as todas, sem as cingir; onipresente, sem lugar; eterno, sem tempo; criador de todo o mutável, sem sofrer ele próprio nenhuma mudança, sem sombra de passividade.

Então a Deus convém a unidade e a unicidade, por ser infinitamente perfeito e eterno e porque é o Ser. “Tudo que é em Deus, não é senão Ser" afirma em Sermões. Repousa em Deus o fundamento último do mundo.

Se Deus é incompreensível, incognoscivel, é o grande mistério, como buscamos esta conexão? Como resgatar a semelhança, partindo do princípio que concebemos apenas a imagem? O que Deus significa para os seres humanos? Deus talvez seja uma luz brilhando e nos voltamos para ele, luz magnífica, tangível, atraente, corremos para ela como corremos para os braços do amor.

Na medida que nos movemos na luz, adentramos no grande mistério da consciência, da fé, do inominável. Esta luz está sempre se transformando em figuras de nosso universo arquetipico. A nossa matriz da alma guarda todos os nossos registros, e formamos juntos com toda a humanidade uma grande mandala, este imenso oceano de energia que permeia a cada um de nós é o que conduz à Fonte, a qual estamos conectados, mesmo sem perceber, sem buscar. A imensa teia da vida, de Capra.

O amor é e força motriz e de coesão, amor este que cura, regenera, cicatriza, e que emana desta imensa roda. Somos o mesmo ser, diferentes aspectos do mesmo ser. A alma humana é a mais perfeita criação, uma lástima não reconhecermos todo o potencial de nossa alma, e não agradecemos a infinita beleza que somos. Não existe maldade na alma, nenhuma alma é malévola por natureza, o que buscamos (mesmo de formas deturpadas) é o amor, o que nos sustenta é o amor. O que nos distorce é a falta de amor, um imenso medo. Que não é o oposto do amor, e nem o ódio o é, dado que o amor é a totalidade, não se divide, não tem opostos. O medo apenas nos separa do amor.

Cada um de nós pode salvar, redimir e curar a si mesmo. Sempre teremos este poder. Isso significa resgatar a SEMELHANCA. Fomos criados com este poder, antes mesmo do mundo existir. Quando sentirmos a LUZ respirar todo o nosso Ser, nos absorver completamente, penetraremos em outra realidade, mais profunda, maior, mergulharemos então num fluxo de luz, vasto e repleto, no meio do coração da vida. A imensa água do manancial que inunda completamente o coração. E todos os tempos se fundem: passado, presente e futuro.

Ao fluirmos nestas águas, este imenso fluxo da vida, solaparemos e rasgaremos a ilusão humana, os véus de Maya. Nos lançaremos para o centro da galáxia, navegaremos no fluxo de consciência através do centro da galáxia, nos expandindo em imponentes ondas fractais de energia, reunindo toda a sabedoria ancestral, numa luz composta de mais do que todas as freqüências no universo. A expansão do ser para todo o universo holográfico e para além dele, transcendendo a VERDADE.

O encontro num profundo estado de quietude, além de todo e qualquer silêncio, o sentir, o vivenciar e compreender o ETERNO, além do infinito. Nos tornaremos o Vazio, a pré-criação, e o "verbo se fez", a gênese, a primeira vibração, nos colocaremos no centro da criação.

Tocaremos a face de Deus. Sem dogmas, simplesmente a harmonia da vida absoluta.

Perceber o eterno é vivenciar o gerar de toda a criação. Nossos ancestrais conheciam estes meandros. Diziam que a Mente de Deus criava novos universos periodicamente, através da expiração, e destruía outros numa inspiração. A experiência do vazio, o vazio é ao mesmo tempo menos do que nada e mais do que tudo que existe. O vazio é o zero absoluto; o caos formando todas as possibilidades. É a consciência absoluta, ainda mais do que a inteligência universal. O vazio existe dentro e fora de tudo, agora, estamos dentro e fora do vazio simultaneamente, não precisamos ir a lugar algum para o concebe-lo. O nada entre todas as manifestações físicas, o que a ciência chama de Ponto Zero. Imensurável, não existem escalas compatíveis para medi-lo, dado que pertence a infinitude. O Ponto Zero existe em mim, em você, no universo, mais do qualquer coisa.

O que os místicos chamam de vazio não é vazio, é a energia que permeia toda a criação. Somos a criação de Deus explorando a nós mesmos através de tudo que possamos imaginar, numa continua e infinita exploração, e através de nossa exploração, Deus explora a Si Mesmo. O eterno, e grande Eu Sou. Todos e Tudo formam o grande EU, onde quer que você esteja, este lugar é o centro do universo. Onde existir um átomo, ali também é o Centro do Universo. Então, Deus está em cada átomo e está no vazio.

Quando mergulhamos no Vazio da criação, enxergamos com os olhos de Deus. Você não será mais você e compreendera o TODO. Mas estamos tão compenetrados em nos tornarmos Deus que não percebemos que já somos Deus e Deus esta se tornando nós.

Somos formados de Luz. Somos luz materializada, cada quantum, átomo, estrela, planeta, até a própria consciência é feita de luz e tem uma freqüência. Luz é algo vivo. Tudo é feito de luz, até as pedras. Então tudo está vivo. Tudo é feito da luz de Deus; tudo esta na perfeita ordem cósmica de criação da vida.

Ao fluir na grande consciência da Criação, compreenderemos que somos muito maiores do que imaginamos. Somos imortais, sempre estivemos vivos. E somos Luz, somos Deus, somos Amor e somos a mais perfeita criação de Deus. Nós somos parte da mesma alma, que se fragmenta em diversas e criativas direções, mas ainda é a mesma alma. A Alma de Deus.


Si comprehendis, non est Deus?


San Mendes

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Despertar


Um anjo abre suas asas…
Tão absortos e perdidos em devaneios...
Não vemos... não sentimos....
Desconectados de nossa essência divina...
O anjo fecha suas asas e voa...
Um pequeno passeio...
Ele volta... sempre volta...
Ate nos encontrarmos conosco mesmos...
Inteiros... puros...amorosos...
As vezes o anjo nos toca...
Um toque delicado...sutil... um leve roçar...
Imperceptível aos sentidos humanos...
Sentimos apenas uma doce sensação...
Calidez... delicadeza... divindade...
Quando abrirmos a visão da alma...
O coração se abrindo no profundo amor...
A queda dos véus...
O DESPERTAR...
O encontro será integral...total...
Então o anjo nos envolvera com suas asas...
A fusão... o todo... o dissolver ...o mesclar...
A união dos entes divinos...
Todo o universo celebra o instante mágico...
Chovem raios dourados e prateados das estrelas...
O anjo e o humano se tornam um...
E não existiam dois seres...
O anjo era o seu Eu esperando você...
Suas asas se abrem e você voa...
Rumo ao infinito dos seus sonhos...
Transcendência...
Unicidade...
Totalidade...


San Mendes

segunda-feira, 30 de abril de 2007

"Nós somos algo diferente de eruditos: embora seja inevitável que, entre outras coisas, também sejamos eruditos. Temos outras necessidades, outro crescimento, outra digestão: precisamos de mais, também precisamos de menos. Não existe fórmula para o quanto um espírito necessita para a sua nutrição; mas, se tem o gosto orientado para a independência, para o rápido ir e vir, para andanças, talvez para aventuras, de que somente os mais velozes são capazes, então prefere viver livre e com pouco alimento, do que preso e empanturrado. Não é gordura, mas maior flexibilidade e força, aquilo que um bom dançarino requer da alimentação - e eu não saberia o que o espírito de um filósofo mais poderia desejar ser, senão um bom dançarino. Pois a dança é o seu ideal, também a sua arte, e afinal sua única devoção também, seu 'culto divino'...
"NIETZSCHE, F. W. "A Gaia Ciência". Aforismo 381. Tradução de Paulo César de Souza. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2001, página 285

quinta-feira, 26 de abril de 2007

A Nova Consciência Humana (Parte II)

Bata,
e Ele irá abrir a porta.
Desapareça,
E Ele o fará brilhar como o Sol.
Caia,
e Ele irá erguê-lo aos céus.
Torne-se nada,
E Ele irá torná-lo tudo.
Mevlana Jalaludin Rumi

Existe um modelo do novo homem? Como o novo homem está nascendo, traz em si toda a potencialidade do vir a ser. O grande dilema repousa em como elevar a consciência e romper as barreiras e couraças do Ego.


Não existe caminho, seita, religião, método ou filosofia. O novo homem traçará e ultrapassará os limiares de sua consciência com liberdade. Esta transcendência coletiva é silenciosa e sem lideres, e tudo que é velho deverá fenecer.

Ser livre é uma máxima a ser seguida, assim o homem poderá encontrar sua verdadeira natureza dentro de si mesmo. Sozinho, no silêncio de sua alma. Os ídolos cairão e o novo homem também não tem deveres e não possui regras. A liberdade é um dom, um presente ou uma conquista para que ele possa viver e ser o quiser.

Podem até surgir gurus e mestres apontando o caminho, mas ele não seguirá, porque a senda é apenas sua. Em sua alma germinará a certeza que ele é livre para amar e para encontrar seu caminho. Seguirá apenas sua alma, coração e consciência.

O novo homem sairá dos templos e meditará nu diante das estrelas, despirá suas velhas crenças, jogará fora seus rótulos, seus títulos, seus graus e suas seitas tolas. Assim, não existirá mais hierarquia na Terra, todos são iguais perante o cosmos.

Loucos? Muitos rotularão o novo homem de louco. Muitos impasses e conflitos podem ser gerados. A solução é encontrar e cooperar com consciências que vibram em freqüências similares, aqueles que se propõe a um novo caminho e com propostas novas.

A trilha será de encanto, estudo, descoberta, treino, passeios e convivência. Assim o novo homem poderá sentir acolhimento e reverberação de seus anseios mais profundos. Esta confraternização não deturpará ou desviará os preceitos profundos de sua alma.

Os espaços criados pelo novo homem e para sua vida social serão destinados a sobrevivência harmônica. Serão verdadeiros oásis no meio do deserto.

Assim estão sendo lançadas as sementes do novo tempo, com o homem sendo um ponto de transformação. Assim como vem o dia, vem a noite, logo, não devem existir as preocupações com o que há de vir, com guerras, holocaustos e apocalipse. O novo homem apenas se voltará para o seu interior.

Mesmo que todos os alicerces do mundo sejam abalados, os alicerces da alma continuarão intocados. A transformação pode ser vasta e abrangente no mundo, porém a principal é a transcendência que ocorre dentro do homem.

Esta transcendência e o nascimento do novo homem resultarão no despertar de varias consciências em uníssono, em escala geométrica. O papel que cada um assumirá no mundo, passivo ou ativo, não importa. Porque cada ser em si carregará o dom da liberdade.

Uma profunda compreensão que as coisas não estão todas predeterminadas persistirá no intimo. As coisas ainda estão em aberto em muitos pontos e só dependerá do esforço passivo ou ativo, para que este processo de transição seja realizado de forma positiva.

San Mendes

A Nova Consciência Humana




" Nada podes ensinar a um homem.
Podes somente ajudá-lo a
descobrir as coisas dentro de si mesmo."


Galileu Galilei





Quem é este novo homem que está surgindo? Uma nova consciência permeia o universo e está sendo plasmada na realidade numa dança lenta, porém constante e ascendente, com novas formas de pensar, de agir, de sonhar, de amar e conceber. O cerne que norteia este novo homem é como pensar em toda a sua civilização e em si mesmo e em como ser cósmico na tridimensionalidade da Terra.

O homem em si deseja e busca um mundo melhor, mais justo, igualitário, pautado em ideais mais elevados. Um mundo de paz, prosperidade e felicidade para todos. Este desejo apenas precisa passar para uma ação mais contundente, e começar a construí-lo. O que acontece é que o homem fica a espera que um sistema político, governos ou instituições façam este trabalho. Não importa se são pequenas ou grandes ações, o importante é que exista um movimento nesta direção.

A verdadeira transformação começa internamente, nos corações de cada um de nós. Se o interior deste novo homem estiver vivo, renovado, desperto, curado das dores de sua alma, este novo mundo começa a tomar forma, e o homem, como agente ativo desta renovação, tem como base os pés no chão e o coração e a alma nas estrelas.

Este homem integrado canalizará todo o seu potencial para seu crescimento e dessa nova consciência no mundo. A ação e o pensamento são planetários, suas preocupações versam sobre ecologia, o ecossistema, a sociedade, o futuro do planeta, o ser em si, o ser em nós.

Ele junta idéias, com pessoas, nos livros, dentro de si mesmo. Alguns o chamam de louco e visionário. Às vezes é discriminado em seu meio, tudo isso por suas visão de transformação, de amor e visão cósmica. Em alguns momentos vive uma profunda solidão, sente fraco, exausto, mas como uma semente que germina em seu intimo ele sabe que seus anseios são reais e que forças cósmicas o amparam.

O despertar da consciência é a chave para a liberdade do homem. Somente imbuído de uma visão cósmica as correntes poderão ser rompidas, assim como emerge a percepção de sua prisão e auto-condenação ao ostracismo.

Nós não estamos sós no Universo. Apenas nos sentimos solitários dentro de nós mesmos. Assim, muitos estão fechados em seu mundo e não conseguem conceber outros mundos e outras vidas, outras dimensões. No claustro do seu microscópico mundo de solidão apenas concebe sua realidade como tudo que existe no universo.

A tolice as vezes toma tais proporções que mesmo quando este ser enclausurado ergue os olhos para o céu e vê a miríade de estrelas, ainda consegue acreditar que seu mundinho é o único entre as estrelas do firmamento.

O desnudamento do ego é um caminho para trilhar novos rumos dentro de si mesmo. Quando deixarmos de ser rótulos egoicos: médicos, físicos, astrônomos, engenheiros, psicólogos, cientistas e passarmos a ser simplesmente homens, retornaremos a nós mesmos, abertos, descondicionados de nossas pseudo ciências e nos revestiremos de nossa alma cósmica.

Bertrand Russel, quando criança, questionava-se profundamente para compreender: "Quem sou?". Qual o significado da minha existência? Ele acreditava que se estudasse muito poderia obter todas essas respostas. Ele cresceu, estudou muito e tomou-se um grande filósofo racionalista, espelho das idéias do sistema. Contudo olhou para si, no final de sua vida, e constatou que aquelas perguntas da infância nem sequer tinham qualquer ponto de luz para sua resolução.

Qual seu questionamento?

San Mendes

domingo, 22 de abril de 2007

Parto com o ar...
Sacudo minha neve branca ao sol que foge,
Desfaço minha carne em redemoinhos de espuma,
Entrego-me ao pó para crescer nas ervas que amo,
Se queres ver-me novamente procura-me
Sob teus sapatos.
Dificilmente saberás quem sou ou o que significo,
Não obstante serei para ti boa saúde,
E filtrarei e comporei teu sangue.
E se não conseguires encontrar-me, não desanimes
O que não está numa parte está noutra,
Nalgum lugar estarei a tua espera.

Walt Whitman

sábado, 21 de abril de 2007



Galaxia em espiral...

Velho Fantasma

Meu velho fantasma…
Os elos que nos uniam se partiram...
Fico aqui parada em frente a esta abissal distancia...
Fitando o vazio...o nada...
Não consigo mais recordar das noites estreladas..
As luas cheias... as mãos entrelaçadas...
A intimidade da noite...os gestos desesperados...
Lagrimas e dor quando me sentia a deriva..
Os sentimentos caóticos... a urgência...
A dor de sua ausência...
O céu e o inferno de estar em seus braços...
O mergulho na luz dourada de seus olhos...
Ahhh velho fantasma...
Este vazio me assusta...
Sua lembrança era um suave calor que me consumia...
Aquecia nas noites solitárias...
Não ouço mais o arrastar de suas correntes
Pelos corredores de minha alma...
Não sinto mais alento por saber que você estava ali...
Nem saudade...dor... alegria ou amor...
Agora vejo apenas a sua imagem esmaecida...
Difusa...distante... preciso fixar meu olhar para te ver...
Talvez o que veja seja apenas um eco de minhas lembranças...
Reminiscências de uma antiga memória ancestral...
Velho fantasma...
Vivemos hoje em galáxias distantes...
A vida e como um caleidoscópio...
Ao rodarmos nas mãos... formamos lindos desenhos..
Um leve tremor e o desenho muda...
Por mais que tentemos recuperá-lo...recriá-lo...
Não mais conseguiremos...

So nos restará formar novos desenhos...
E nos encantarmos com novas possibilidades...
Novas cores...novos fractais...
Sem a preocupação do tremor nas mãos...
Adeus meu velho fantasma...
Em pé na beira deste abismo de mim mesma...
Uma lágrima desce solitária por meu rosto...
Ergo os braços aos céus...
Fito o universo...as estrelas...o infinito...
As possibilidades difusas do vir a ser...
E jogo suas cinzas ao vento...
Descanse em paz em meus velhos sonhos...

Adeus.... meu velho fantasma...

San Mendes


sexta-feira, 20 de abril de 2007


Explosão de Cassiopéia

O Haver

Vinicius de Moraes

Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo-
Perdoai-os! porque eles não têm culpa de ter nascido...
Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo
Essa mão que tateia antes de ter, esse medo
De ferir tocando, essa forte mão de homem
Cheia de mansidão para com tudo quanto existe.
Resta essa imobilidade, essa economia de gestos
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito
Essa gagueira infantil de quem quer exprimir o inexprimível
Essa irredutível recusa à poesia não vivida.
Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento
Da matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade
Do tempo, essa lenta decomposição poética
Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.
Resta esse coração queimando como um círio
Numa catedral em ruínas, essa tristeza
Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria
Ao ouvir passos na noite que se perdem sem história.
Resta essa vontade de chorar diante da beleza
Essa cólera em face da injustiça e o mal-entendido
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
Piedade de si mesmo e de sua força inútil.
Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado
De pequenos absurdos, essa capacidade
De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil
E essa coragem para comprometer-se sem necessidade.
Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza
De quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser
E ao mesmo tempo essa vontade de servir, essa
Contemporaneidade com o amanhã dos que não tiveram ontem nem hoje.
Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é, e essa visão
Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante
E desnecessária presciência, e essa memória anterior
De mundos inexistentes, e esse heroísmo
Estático, e essa pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.
Resta esse desejo de sentir-se igual a todos
De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem memória
Resta essa pobreza intrínseca, essa vaidade
De não querer ser príncipe senão do seu reino.
Resta esse diálogo cotidiano com a morte, essa curiosidade
Pelo momento a vir, quando, apressada
Ela virá me entreabrir a porta como uma velha amante
Mas recuará em véus ao ver-me junto à bem-amada...
Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
Infantil de ter pequenas coragens.

15/04/1962
A poesia acima foi extraída do livro "Jardim Noturno - Poemas Inéditos", Companhia das Letras - São Paulo, 1993, pág. 17.
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